Na tranquilidade do meu quarto de hotel,
liberto das obrigações da manhã, repouso, convivo com pensamentos cruzados, por
onde passam as discussões do dia e as senhoras que, ao almoço, mostram fotos
dos filhos guardadas nos seus “celulares”, ausências muito sentidas e
expetativas do dia seguinte, noutro lugar.
Pensamentos cruzados, palavras-cruzadas
difíceis, impossíveis de encaixar nas quadraturas usuais. Pensamento que flui
depressa de mais para se consolidar em palavras. Palavras em fuga que se
recusam a ser cristalizadas em fôrmas, quadraturas ou textos. Era muito mais
simples se pudesse carregar num botão “ligado-desligado”.
No entretanto, há mensagens que fluem pela “rede”,
há solicitações que aguardam resposta, há notícias e debates que chegam do
outro lado do Atlântico. Contrariado por quebrarem a minha vontade de
permanecer deste lado, por uns poucos dias, cedo e, por instantes, até fico grato:
os pensamentos, as palavras-cruzadas deixam de fluir por momentos, e a
tranquilidade do isolamento que perdi faz-se paz de espírito, dando resposta a
coisas miúdas, burocracias, contextos e circunstâncias que cada vez me prendem
menos.
Quanto eu gostava de desligar destes assuntos
miúdos, para, solto, leve, liberto de palavras-cruzadas, levitar, tal qual as aves
que descortino da minha janela, levadas, sustidas pelas correntes de ar.
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