Deixei ontem Braga, pela noite. Tivestes a
simpatia de me ir levar ao autocarro. Depois de uma noite tranquila, na Maia, e
da tramitação usual nestas coisas das viagens, encontro-me nesta altura
algures, sobre o Atlântico, na rota para São Paulo. Vou em serviço, como
praticamente sempre aconteceu na minha vida, até aos dias de hoje.
As primeiras viagens de avião que fiz, a
Moscovo e a Baku, ocorreram em 1979. Pese ainda ser estudante de licenciatura,
bem se pode dizer que foram igualmente viagens de trabalho. Fui, num certo
sentido, em representação da juventude universitária portuguesa (lisboeta), e
foi uma deslocação que me permitiu aprender e ver muito.
Teve diversas dimensões inesquecíveis, entre
elas a companhia de Adriano Correia de Oliveira, menos jovem que a generalidade
do grupo, e que viria a morrer alguns anos mais tarde, seguramente muito cedo
do que devia, atendendo à idade que tinha. Não escolheu, no entanto, a idade para morrer.
Voando sobre o Atlântico, dizia, recordo-me
de me despedir de ti, e da circunstância bastante inédita de viajar só, para uma
ausência razoavelmente alargada. Aparte a tua viagem ao Brasil, na Páscoa passada,
nunca tinha estado longe de ti por muitos dias desde que decidimos partilhar as
nossas vidas. Creio mesmo que é esta a ocasião em que vamos estar fisicamente
longe mais tempo. Fisicamente, digo, porque circunstâncias infelizes nos têm mantido
afastados algumas vezes. Muitas mais do que alguma vez desejei. Não imaginas
como tal me tem sido penoso.
José Cadima
(2017/11/11)
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