segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Algures, sobre o Atlântico (II)

Estou em viagem e vou trabalhar, quer dizer, assegurar uns quantos seminários  e interagir com um número inserto de professores e investigadores brasileiros sobre o que é ser investigador hoje em dia, em Portugal e no mundo. Vou falar sobre a investigação que faço, as minhas publicações e, sobretudo, sobre a minha vivência e reflexão sobre a matéria.
Não sei se tenho muito para ensinar. Não sei, rigorosamente, quem serão os meus interlocutores. Tenho, é bem verdade, uma vivência razoavelmente longa que, porventura, podem ser fonte de ensinamento para alguém. Queira esse alguém olhar para o mundo académico a partir de uma perspetiva mais europeia e universal.
Vou a lugares novos, de que nunca tinha ouvido falar (Itajubá) e vou a visitar lugares onde já estive (Taubaté), ao encontro de gente que vou reencontrar. Vou com a curiosidade de descobrir ligares inéditos (novos mundos), surpreendentes, quiçá, e olhar as modificações ocorridas nos lugares das minhas memórias. É certo, o Brasil de hoje não é, infelizmente, o Brasil de há dez anos, 5 ou, mesmo, 3. Faço votos de que a descrença e desencanto dos locais fiquem aquém do que imagino. Tive a oportunidade de visitar o Brasil em momentos de esperança, de otimismo, e eram esses os tempos que queria que perdurassem, embora me tivesse parecido na altura que algumas dimensões do que estava a ser construído assentavam em pés-de-barro. Acabou por se confirmar o que a minha intuição e leitura dos acontecimentos me indicavam mais depressa do que poderia antecipar, desgraçadamente para uma grande maioria dos brasileiros. Haverá sempre aqueles que são ganhadores, independentemente dos tempos e circunstâncias.
Algures, sobre o Atlântico, a oito horas de voo do meu destino mais imediato (São Paulo), recordo a última viagem que fiz ao Brasil, a São Paulo, entre outros lugares, que não foi particularmente feliz, por diversas razões. Ocasiões que deviam ser de encontro, desembocam, de quando em quando, em afirmações de “non sense”. Recordo a visita ao Museu da Língua Portuguesa, que viria a arder um ano depois (ignoro se entretanto foi ou está a ser reconstruído) e ao Teatro Municipal, um momento fantástico, de encontro de imagens tão próximas quanto o são as do Teatro Circo, em Braga, e do Teatro Municipal de São Paulo. Um acontecimento inolvidável de uma visita a cidade globalmente desinteressante, suja, desestruturada.
Desta vez, como disse, o meu destino final não é São Paulo, e regozijo-me com isso, pelo menos nesta ocasião. O que direi à posteriori está ainda longe de poder ser antecipado. No momento, do meu banco, leio: São Paulo, 6043 Kms de distância, 7,38 horas para a aterragem. No meu pensamento, segues tu, tão distante, e a expetativa do que será a “viagem”, na sua materialização nas terras e nas gentes que encontrarei. Irás permanecer presente no meu pensamento durante todos os dias da minha ausência por aquelas terras.

José Cadima
(2017/11/11)

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