Despedi-me dos meus alunos
na passada semana e informei-os que iria estar duas semanas ausente do país.
Alertei-os para a circunstância de haver trabalho para fazer(em) e de haver
prazos para esse efeito. Admiti que percebessem que ficaria com restrições na
interação com eles e que iriam aproveitar esse tempo para adiantar trabalho,
que me submeteriam após o meu regresso à rotina.
Nada disso se vem passando: a
toda a hora, indiferentes a diferenças de fusos horários e a circunstâncias e
compromissos, os meus, digo, vou recebendo artigos de opinião/ensaios e outros
relatórios, mensagens com pedidos de esclarecimento de situações várias e
propostas de datas para agendamento e discussão de trabalhos individuais e de
grupo. Sou forçado a concluir, agora como nunca antes, que esta coisa da
internet e do trabalho à distância rompeu definitivamente com a ideia da
relação do aluno com o professor mediada pela aula de aula, pelo gabinete de
trabalho ou, até, com a distância física e a distância psicológica.
Por esta altura, o meu
gabinete de trabalho é a explanada de um hotel, em Itajubá, com vista para a
cidade e as montanhas envolventes, a mais de 8000 kms de Braga, e trabalhando
num fuso horário diferente do dos meus alunos. Num tal contexto, a pergunta que
se sugere é se há forma dos meus alunos entenderem que estou em acumulação com
outros serviços e que, por isso, não sou o professor “próximo”, capaz de
interagir em prazos curtos com eles. Posto de outro modo, uma ausência em
serviço fora do país acabou por me conduzir a uma situação em que, em vez de “um”,
passei a ter “dois” serviços, isto é, a estar em acumulação de funções, embora com um salário
só.
Em mensagens produzidas
noutra “sede”, fala-se de saudade. Saudade, sim, ânsia de reencontro. Fico
espartilhado entre essa saudade que também sinto, intensa, e a reclamação de
uma presença onde não há lugar para que se gere saudade porque não há espaço
para a ausência.
J. Cadima Ribeiro
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