domingo, 29 de dezembro de 2019

Até sempre Han Solo, Luke e Leia!

Na semana que agora termina fui assistir ao último filme de cinema da série “Star Wars”. O filme teve em mim um grande impacte emocional. Tal qual a narrativa do filme, também senti que se encerrava nessa ocasião um período crucial da minha vida, isto é, senti que estava perante o final de um percurso.
Ao longo de várias décadas, assistimos ao emergir de personagens e contextos ficcionais e ao respetivo ocaso. Esse percurso é um certo retrato do universo ficcional do seu realizador/produtor, George Lucas, e de alguns de nós, contemporâneas da série, como é, o meu caso. A morte de Han Solo, Luke Skywalker e de Leia, e a ascensão de Rey são a expressão de um movimento geracional porque todos nós passamos e que eu senti de forma particular, pela minha afeição às personagens e pelo momento da minha vida que atravesso. Com os três primeiros personagens que enumero, morri também eu, numa importante medida.
Ao longo da minha vida, percorri muito mundo, enfrentei muitos desafios, desafiei-me várias vezes a enfrentar realidades de galáxias diferentes daquelas em que vivi nos períodos precedentes. Sobrevivi até hoje, mais desgastado, mais fragilizado, com vontade de recolher-me em espaços de atuação e ambiências afetivas mais acolhedoras. Nesta última dimensão, têm-me sido difícil encontrar o recolhimento que ambiciono, por culpa minha, certamente, mas também porque cada um concebe recolhimento e afetividade de formas distintas e, algumas vezes, falha a comunicação e a capacidade de entender os anseios dos outros.
A fechar 2019, no contexto de uma gestão planeada de um retiro da exposição pública, na proximidade de uma retirada de um percurso profissional longo e exigente, o desaparecimento das personagens ficcionais de Solo, Luke e Leia, esta, que também desapareceu recentemente do mundo terreno, não podia ter tido efeito em mim senão o que teve. Pergunto-me se serei capaz de reerguer-me, seguro que estou que me vão faltando forças e engenho para enfrentar as lutas com que o quotidiano teima em confrontar-me.
Neste desespero de ausência de respostas para esses desafios, vou-me deixando guiar pelo instinto e pela experiência de uma vida, pessoal e profissional, que nunca me deu tréguas. Daí, porventura, vêm fundamentos para resistência a culturas e posturas com que nunca contemporizei, podendo parecer mais fácil ceder perante elas. Não é próprio da minha identidade fazer tal. Procurar o amor, o repouso, ouvir os outros, nunca deixei do fazer. Aprendi muito, concretizei muito, percorri muito mundo suportado nessas expressões. Quero continuar a fazê-lo na medida do que me for possível, das minhas forças, e do apoio que possa garantir, da minha mulher, Paula Cristina, da minha mãe, do meu irmão e dos meus filhos, em particular daquele  que, até hoje, se dispôs a construir um percurso que acaba por ser a natural sucessão daquele que protagonizei, num quadro geracional que é o dele. Que preciso de muito apoio, carinho e amor para prosseguir, disso não me resta qualquer dúvida.
Obrigado José Pedro! Obrigado Cris! Não te esqueças, Cris, que te amo, mesmo quando não sou capaz do verbalizar como desejavas que o fizesse, e quando te digo que não me identifico com os caminhos que queres percorrer. Tendo percorrido muito mundo, conheço alguns segredos que te estão vedados, para o bem e para o mal, e que me dizem para não ires por aí. Não duvides que quero continuar a fazer caminho contigo. Os caminhos a fazer temos que ser capazes dos escolher juntos. Porquê fazer caminho por trilhos que sei serem inóspitos.
Até sempre Han Solo, Luke e Leia! Que a força te continue a assistir, Rey!

José Cadima

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