Na semana que agora termina fui assistir
ao último filme de cinema da série “Star Wars”. O filme teve em mim um grande
impacte emocional. Tal qual a narrativa do filme, também senti que se encerrava
nessa ocasião um período crucial da minha vida, isto é, senti que estava
perante o final de um percurso.
Ao longo de várias décadas, assistimos ao
emergir de personagens e contextos ficcionais e ao respetivo ocaso. Esse
percurso é um certo retrato do universo ficcional do seu realizador/produtor,
George Lucas, e de alguns de nós, contemporâneas da série, como é, o meu caso. A
morte de Han Solo, Luke Skywalker e de Leia, e a ascensão de Rey são a expressão
de um movimento geracional porque todos nós passamos e que eu senti de forma
particular, pela minha afeição às personagens e pelo momento da minha vida que
atravesso. Com os três primeiros personagens que enumero, morri também eu, numa
importante medida.
Ao longo da minha vida, percorri muito
mundo, enfrentei muitos desafios, desafiei-me várias vezes a enfrentar realidades
de galáxias diferentes daquelas em que vivi nos períodos precedentes. Sobrevivi
até hoje, mais desgastado, mais fragilizado, com vontade de recolher-me em
espaços de atuação e ambiências afetivas mais acolhedoras. Nesta última
dimensão, têm-me sido difícil encontrar o recolhimento que ambiciono, por culpa
minha, certamente, mas também porque cada um concebe recolhimento e afetividade
de formas distintas e, algumas vezes, falha a comunicação e a capacidade de
entender os anseios dos outros.
A fechar 2019, no contexto de uma gestão
planeada de um retiro da exposição pública, na proximidade de uma retirada de
um percurso profissional longo e exigente, o desaparecimento das personagens
ficcionais de Solo, Luke e Leia, esta, que também desapareceu recentemente do
mundo terreno, não podia ter tido
efeito em mim senão o que teve. Pergunto-me se serei capaz de reerguer-me,
seguro que estou que me vão faltando forças e engenho para enfrentar as lutas com
que o quotidiano teima em confrontar-me.
Neste desespero de ausência de respostas
para esses desafios, vou-me deixando guiar pelo instinto e pela experiência de
uma vida, pessoal e profissional, que nunca me deu tréguas. Daí, porventura, vêm
fundamentos para resistência a culturas e posturas com que nunca contemporizei,
podendo parecer mais fácil ceder perante elas. Não é próprio da minha
identidade fazer tal. Procurar o amor, o repouso, ouvir os outros, nunca deixei
do fazer. Aprendi muito, concretizei muito, percorri muito mundo suportado
nessas expressões. Quero continuar a fazê-lo na medida do que me for possível,
das minhas forças, e do apoio que possa garantir, da minha mulher, Paula
Cristina, da minha mãe, do meu irmão e dos meus filhos, em particular daquele que, até hoje, se dispôs a construir um
percurso que acaba por ser a natural sucessão daquele que protagonizei, num
quadro geracional que é o dele. Que preciso de muito apoio, carinho e amor para
prosseguir, disso não me resta qualquer dúvida.
Obrigado José Pedro! Obrigado Cris! Não te
esqueças, Cris, que te amo, mesmo quando não sou capaz do verbalizar como
desejavas que o fizesse, e quando te digo que não me identifico com os caminhos
que queres percorrer. Tendo percorrido muito mundo, conheço alguns segredos que
te estão vedados, para o bem e para o mal, e que me dizem para não ires por aí.
Não duvides que quero continuar a fazer caminho contigo. Os caminhos a fazer
temos que ser capazes dos escolher juntos. Porquê fazer caminho por trilhos que
sei serem inóspitos.
Até sempre Han Solo, Luke e Leia! Que a
força te continue a assistir, Rey!
José
Cadima
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