Houve tempos em que, em múltiplos textos, fui reagindo ao que lia e ouvia no meu dia-a-dia. Hoje, raramente o faço. Prefiro o silêncio e a distância, o que não significa que não continuem a incomodar-me coisas que vou vendo e lendo em lugares diversos, dos media comuns às redes sociais e blogues, e preconceitos.
Um desses preconceitos respeita à relação entre pais e filhos. Numa vivência pessoal já longa, não me reconheço na relação suposta privilegiada entre mães e filhos, e muito menos na ideia que as mulheres têm um jeito especial para cuidar de (deveria ler-se, para educar) os filhos.
Podendo invocar outros casos, recordo sempre a este propósito (uma recordação que me resulta assaz dolorosa mas que agora sou capaz de fazer, ao contrário do que aconteceu durante muitos anos) o caso de uma menina que, aquando com a mãe, vivia em agitação permanente, enquanto que, estando com o pai, raramente se ouvia, entregue aos seus brinquedos e à sua imaginação de criança. Quando era ainda mais pequena, o pai adormecia-a percorrendo de automóvel as ruas vizinhas do lugar onde moravam.
A mágoa maior que restou ao pai da menina foi não ter podido vê-la crescer até se tornar adolescente e depois adulta. Pai e filha, se essa oportunidade lhes tivesse sido dada, teriam, seguramente, encontrado maneira de preservar essa intimidade e confiança, para se ajudarem mutuamente.
Recordo este exemplo mas poderia trazer outros que, felizmente, não trazem consigo memórias profundamente dolorosas.
Note-se: perceber relações de confiança e amor entre pais (pai e mãe) e filhos sempre me deu um especial conforto, tal qual relações de confiança e amor, ou pelo menos de respeito, quando a relação marital não resiste, entre pai e mãe, o que só pode ajudar a crescer e formar bem os filhos. Isso é o que verdadeiramente importa, e não é fácil consegui-lo. Preconceitos, dispenso-os todos.
José Cadima
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