Creio que no texto de uma canção, questiona-se a certo passo se "pode alguém ser quem não é". Eu não sou capaz, nem quero ser quem não sou. Na minha singularidade, atravessando momentos de muita turbulência, sempre fui o que sou, e seguramente por isso sobrevivi até aos dias de hoje. Duramente e, amiúde, injustamente criticado pela minha postura e os meus valores, tenho hoje entre os que convivem comigo pacificamente muitos desses críticos do passado. Eles terão mudado as suas referências fundamentais, terão percebido quão erróneas foram muitas das avaliações de situação que fizeram no passado e muitos julgamentos que fizeram de mim. Eu precisei apenas de seguir o meu rumo, com a tranquilidade que as circunstâncias me foram permitido, calando mágoas, tantas vezes. Nunca precisei de, nunca aceitei "ser quem não sou".
Erros? Sim, cometo muitos. Alegra-me que haja quem não os comete, se os há. Arrependo-me de quantos erros cometo, e não me custa pedir desculpa por eles. Outros há que nunca têm dúvidas e raramente, se alguma vez, se enganam. Gostaria que me perdoassem dos erros que cometo, tanto mais que são sempre involuntários. Perturbam-me de forma redobrada os erros que cometo que atingem pessoas que me são particularmente queridas, sendo que o risco de isso acontecer com esses é redobrado em razão da exposição quotidiana à possibilidade de erro. Redobrada é também nesses casos a minha perturbação. Ser assumido que érro voluntariamente ou interpretarem mal o que digo e o que faço, magoa-me de forma triplicada.
Quando gosto de alguém, gosto mesmo desse alguém. Quando amo alguém, amo sem restrições, o que não me liberta de erros e interpretações erróneas. Magoa-me atrozmente que se possa questionar a minha dedicação, o meu amor.
Sigo neste trilho como sempre segui, errando umas vezes, acertando na maior parte delas, dizendo o que sinto e penso e, muitas vezes, também, não sendo capaz de dizer algumas coisas, nomeadamente quanto (te) amo. É um erro, eu sei, mas eu nunca fui de muitas palavras nas dimensões mais íntimas da minha vida. Lamento isso e peço perdão por isso a quem deveria escutar as palavras verbalizando as minhas emoções mais vezes. Fiz-me assim, na minha timidez e na defesa pessoal que fui construíndo e me trouxe até hoje. Peço compreensão. Não sou, não quero ser quem não sou. Aceitar-me-ão nessa identidade ou não me aceitarão. Nunca prometi o que não está ao meu alcance. Sempre lutei e muitas vezes consegui alcançar aquilo porque lutei. Gostaria de continuar a acreditar que valeu a pena, vale a pena esta luta, árdua, mal compreendida, intercalada por erros que cometo, onde as pessoas que me são queridas são a sua razão de ser e a força que me mantém.
Obrigado aos que me aceitam como sou. Obrigado aos que me amam, pese os meus erros e as minhas limitações, e a dificuldade de lhes dizer tantas vezes quantas mereciam quanto os amo (quanto te amo).
José Cadima
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